segunda-feira, 13 de junho de 2011

Universidade e Escola: uma via de mão dupla

A transição da universidade para a escola, campo de estágio, e desta para a universidade possibilita aos educadores em formação construir relações, conhecimentos e aprendizagens, não com a finalidade de denunciar as falhas e insuficiências da prática escolar, mas compreender esta prática para transformá-la.

Essa transição, onde o aluno passa a ser professor, nem sempre acontece sem sustos, pois, muitas vezes, há o “choque com a realidade”, ou seja, os ideais criados no processo de formação são contraditórios a realidade da sala de aula. Dessa maneira, cada experiência vivenciada durante o período do estágio será um desafio a capacidade de superar os dilemas, os quais são essenciais à formação profissional, a medida que desafiam os estagiários à reflexão e pesquisa, mobilizando os diferentes saberes vivenciados na formação inicial.

O primeiro passo do Estágio nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental foi à realização de uma pesquisa etnográfica na Escola Vilma Britto Sarmento, no período de 04 de abril a 08 de abril de 2011, especialmente, com a turma do 2º ano do Ensino Fundamental de 9 anos, no turno vespertino, com vinte e cinco alunos matriculados com idade igual a sete anos.

A pesquisa supracitada teve como finalidade, mais ampla, analisar o contexto que a escola está inserida, bem como compreender questões particulares como gestão, coordenação pedagógica, currículo, formação docente e gestão de classe. Dentre os resultados encontrados, verificou-se que os desafios e dificuldades da ação docente estão interligados com a organização e a cultura da escola. Fazendo-se necessário ao estagiário compreender a realidade dos integrantes da escola, bem como tais questões particulares.

Posteriormente, fizemos um projeto de intervenção, intitulado “Família-Escola: Principal elo na educação de valores” no intuito de promover práticas educativas relativas aos valores de obediência, amizade, amor e paz que conduzam para construção de uma sociedade mais humanizada. Cabe ressaltar que em paralelo ao projeto de valores, trabalhamos com alfabetização e letramento, a fim de desenvolver competências e habilidades referentes a escrita e leitura.

Refletindo o Estágio


O estágio teve duração de quatro semanas, a cada semana trabalhava-se com um valor: obediência, amizade, amor e paz, respectivamente. A primeira semana, como todo início, causa “borboletas no estômago”, aquele friozinho na barriga, pela insegurança de estamos num espaço que não é nosso, mas que aos poucos torna-se nosso também.

Nesse espaço, enfrentamos algumas dificuldades, como o acompanhamento individual e coletivo, pois a quantidade de alunos que precisavam de auxílio para a escrita e leitura era imperceptível, em relação aos alunos que pediam ajuda apenas para nos ter perto, chamar a atenção.

Outra dificuldade era manter a afetividade e a ordem da classe, tornava-se complicado controlar aqueles mais próximos a nós, o carinho era confundido por eles como liberdade para fazer o que queria e, concomitantemente, era difícil repreender tais alunos.

A dificuldade maior é a relação entre a escola e a família, muitos pais participam da vida escolar dos filhos, interessando-se apenas em um aspecto: disciplina, mas na maioria das vezes culpa a escola pela atitude dos filhos, justificando que em casa é diferente.

Confirmei a necessidade do professor refletir sua prática, ou seja, repensar sua metodologia, sua concepção de avaliação, seus objetivos, e sua concepção de educação.
Tornando imprescindível a minha prática, a articulação de saberes apreendido ao longo desses anos. Concordo com Freire (1996, p. 29) quando afirma,

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.

Assim, levamos alfabeto móvel, jogos educativos, dinâmicas e atividades planejadas com muito carinho, levando em consideração os conhecimentos prévios, bem como o nível de escrita e leitura individual dos alunos. Percebemos em todos os momentos entusiasmo em fazer as atividades, mas também dificuldades na leitura, escrita e raciocínio matemático.

Indubitavelmente, o estágio é o momento de encontro e confronto entre os professores de ensino fundamental, docente universitário e estagiários, cada um com história e experiências individuais. É o período onde os conhecimentos teóricos e práticos se articulam, evidenciando que ação sem reflexão impede o aprendizado, bem como nos limita enquanto profissionais em formação.

Agradeço a minha amiga e parceira de estágio Fernanda Lisboa pelo apoio constante, a professora Socorro Cabral pelas orientações e intervenções valiosas, aos alunos pelos momentos de aprendizado e a todos que de alguma forma contribuíram para meu aprendizado.