segunda-feira, 13 de junho de 2011

Universidade e Escola: uma via de mão dupla

A transição da universidade para a escola, campo de estágio, e desta para a universidade possibilita aos educadores em formação construir relações, conhecimentos e aprendizagens, não com a finalidade de denunciar as falhas e insuficiências da prática escolar, mas compreender esta prática para transformá-la.

Essa transição, onde o aluno passa a ser professor, nem sempre acontece sem sustos, pois, muitas vezes, há o “choque com a realidade”, ou seja, os ideais criados no processo de formação são contraditórios a realidade da sala de aula. Dessa maneira, cada experiência vivenciada durante o período do estágio será um desafio a capacidade de superar os dilemas, os quais são essenciais à formação profissional, a medida que desafiam os estagiários à reflexão e pesquisa, mobilizando os diferentes saberes vivenciados na formação inicial.

O primeiro passo do Estágio nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental foi à realização de uma pesquisa etnográfica na Escola Vilma Britto Sarmento, no período de 04 de abril a 08 de abril de 2011, especialmente, com a turma do 2º ano do Ensino Fundamental de 9 anos, no turno vespertino, com vinte e cinco alunos matriculados com idade igual a sete anos.

A pesquisa supracitada teve como finalidade, mais ampla, analisar o contexto que a escola está inserida, bem como compreender questões particulares como gestão, coordenação pedagógica, currículo, formação docente e gestão de classe. Dentre os resultados encontrados, verificou-se que os desafios e dificuldades da ação docente estão interligados com a organização e a cultura da escola. Fazendo-se necessário ao estagiário compreender a realidade dos integrantes da escola, bem como tais questões particulares.

Posteriormente, fizemos um projeto de intervenção, intitulado “Família-Escola: Principal elo na educação de valores” no intuito de promover práticas educativas relativas aos valores de obediência, amizade, amor e paz que conduzam para construção de uma sociedade mais humanizada. Cabe ressaltar que em paralelo ao projeto de valores, trabalhamos com alfabetização e letramento, a fim de desenvolver competências e habilidades referentes a escrita e leitura.

Refletindo o Estágio


O estágio teve duração de quatro semanas, a cada semana trabalhava-se com um valor: obediência, amizade, amor e paz, respectivamente. A primeira semana, como todo início, causa “borboletas no estômago”, aquele friozinho na barriga, pela insegurança de estamos num espaço que não é nosso, mas que aos poucos torna-se nosso também.

Nesse espaço, enfrentamos algumas dificuldades, como o acompanhamento individual e coletivo, pois a quantidade de alunos que precisavam de auxílio para a escrita e leitura era imperceptível, em relação aos alunos que pediam ajuda apenas para nos ter perto, chamar a atenção.

Outra dificuldade era manter a afetividade e a ordem da classe, tornava-se complicado controlar aqueles mais próximos a nós, o carinho era confundido por eles como liberdade para fazer o que queria e, concomitantemente, era difícil repreender tais alunos.

A dificuldade maior é a relação entre a escola e a família, muitos pais participam da vida escolar dos filhos, interessando-se apenas em um aspecto: disciplina, mas na maioria das vezes culpa a escola pela atitude dos filhos, justificando que em casa é diferente.

Confirmei a necessidade do professor refletir sua prática, ou seja, repensar sua metodologia, sua concepção de avaliação, seus objetivos, e sua concepção de educação.
Tornando imprescindível a minha prática, a articulação de saberes apreendido ao longo desses anos. Concordo com Freire (1996, p. 29) quando afirma,

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.

Assim, levamos alfabeto móvel, jogos educativos, dinâmicas e atividades planejadas com muito carinho, levando em consideração os conhecimentos prévios, bem como o nível de escrita e leitura individual dos alunos. Percebemos em todos os momentos entusiasmo em fazer as atividades, mas também dificuldades na leitura, escrita e raciocínio matemático.

Indubitavelmente, o estágio é o momento de encontro e confronto entre os professores de ensino fundamental, docente universitário e estagiários, cada um com história e experiências individuais. É o período onde os conhecimentos teóricos e práticos se articulam, evidenciando que ação sem reflexão impede o aprendizado, bem como nos limita enquanto profissionais em formação.

Agradeço a minha amiga e parceira de estágio Fernanda Lisboa pelo apoio constante, a professora Socorro Cabral pelas orientações e intervenções valiosas, aos alunos pelos momentos de aprendizado e a todos que de alguma forma contribuíram para meu aprendizado.

sábado, 19 de março de 2011

ઇઉ Borboletas no estômago ઇઉ

Sabe aquele pequeno instante que precede à ação?
Aquele momento que o tempo pára.
A gente suspira.
Parece que tudo está em suspensão,
esperando pelo inevitável:
O vestibular;
A palestra para 100 pessoas;
O (re)encontro de uma futura paixão;
A primeira viagem de avião.
A mudança!
Uma sensação complexa e primitiva.
O coração parece sair pela boca.
Medo, ansiedade, expectativa, apreensão.
Aquele friozinho na barriga.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A pesquisa como eixo de formação docente

Como diria Machado de Assis, citado por Esteban e Zaccur (2002, p. 15), “Deus te livre, caro leitor, de uma idéia fixa. É que as idéias fixas, uma vez encarapitadas no trapézio da mente passam a exigir respostas, leituras, discussões, reflexões e, portanto pesquisa...”

Essa advertência confirma que a pesquisa não é tarefa fácil. Pode se dar a partir de uma idéia fixa, ou seja, de um questionamento, de uma pergunta que direciona o processo empírico-teórico de uma investigação. Contudo, acreditava-se que pesquisa pressupõe fundamentação teórica consistente, leitura crítica da bibliografia especializada e, por conseguinte sempre esteve atrelada ao professor universitário, ao lócus da universidade.

Nessa perspectiva, a pesquisa é entendida como momento de pensar para orientar o fazer de outros. Assim, as perguntas indispensáveis ao processo de construção do conhecimento são silenciadas no interior da escola e, consequentemente, a educação segue ancorada a princípios capitalistas, apostando nos pré-requisitos trazidos pelos pesquisadores acadêmicos, isentando os professores da educação básica de serem pesquisadores.

A superação da dicotomia entre o pensar e o fazer, matrizada na divisão do trabalho e na hierarquização, tem sido um desafio, evidenciado nos impasses vivenciados por quem vive o cotidiano da escola e por quem teoriza. Deste modo, torna-se, pois, necessário a formação de professores-pesquisadores.

Para tanto, o currículo dos cursos de formação de professores deve ser perpassado pela pesquisa, oportunizando os alunos vivenciarem a prática educacional e, ao mesmo tempo, refletir sobre ela, constituindo uma relação dialógica e dialética. Ressalta-se que sem essa intenção, o currículo estrutura-se de maneira fragmentada, tendo como base as disciplinas teóricas, ligadas ao saber, seguidas posteriormente pelas metodologias, ligadas a prática, para então finalizar com o estágio, momento de treinar a ação docente, mostrando o que foi aprendido.

Os cursos de formação de professores, portanto devem romper com a concepção do currículo dicotômico, para então considerar as teorias como “lentes”, instrumentos que auxiliam na compreensão do real, tendo a prática como ponto de partida e chegada. Dessa maneira, qualifica o professor enquanto pesquisador, que nesse movimento de ação-reflexão-ação, torna-se apto a formular alternativas para transformar a sua ação docente, bem como a realidade.

ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR, Edwiges (orgs.). Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Porque o estágio para quem não exerce o magistério: o aprender a profissão

As reformas da educação e a legislação de ensino exigem dos profissionais que exercem/exerceram o magistério a busca pela certificação, pelo conhecimento sistematizado. Deste modo, são inseridos em turmas de alunos que não tem experiência, trazendo um perfil diferenciado aos cursos de formação de professores, nos quais surgem questões e preocupações novas e diversas, em especial acerca do estágio.

Nesse sentido, as autoras enfatizam a importância de refletir sobre as singularidades do estágio para compreendê-lo como preparação ao magistério, bem como momento que permite aos sujeitos envolvidos entender assuntos pertinentes a escola, a profissão, a realidade dos alunos e professores de ensino fundamental e médio, possibilitando os estagiários a reafirmação e o crescimento profissional.

Ademais, quanto aos conteúdos teórico-metodológicos, espera-se que sejam alicerce para o estágio, mas é preciso atentar-se que para solucionar os percalços advindos da rotina da sala de aula, da escola não são suficientes. Faz-se necessário a mediação do supervisor/orientador e daqueles que já possuem experiência com a ação docente. Todavia “a discussão dessas experiências, de suas possibilidades, do porque de darem certo ou não, configura o passo adiante à simples experiência” (p. 103).

Outra questão alusiva ao estágio trata-se da impressão de quem não exerce o magistério no primeiro contato com a sala de aula. Muitas vezes a reação é de pânico, vez que nesse momento desvelamos o real e percebemos as contradições entre a teoria e a prática. Vale ressaltar que essa primeira impressão é pertinente a falta de experiência e o currículo dicotômico dos cursos de formação.

Cabe aos estagiários compreender que os desafios e dificuldades da sala de aula estão interligados com a organização da escola e com a cultura organizacional. Assim, torna-se imprescindível conhecer o cotidiano, a rotina da escola para a construção do projeto de intervenção.

As mudanças nas formas organizacionais em prol da qualidade da educação, bem como as modificações resultantes das reformas educacionais deixam os professores inseguros e insatisfeitos, como conseqüência, geralmente, recebem os estagiários “com apelações do tipo: ‘Desista enquanto é novo!’, ‘O que você, tão jovem, está fazendo aqui?’” (p. 104).

Diante disso, o estágio precisa ser (re)estruturado e a universidade e a escola devem firmar parceria mais eficaz, estimulando a colaboração dos sujeitos envolvidos nesse processo. Salientando que essa parceria torna-se difícil pelas instituições possuírem “características, objetivos, estrutura e funcionamento diversos” (p. 107). Dessa maneira, compete ao estagiário entender das culturas específicas, bem como o que tem em comum afim de não gerar acusações mútuas.

No interior da escola, segundo Farias (2002, apud PIMENTA, 2004), são firmados acordos que envolvem regras próprias que regulamentam seu funcionamento burocrático e as concepções, crenças e valores de seus membros, representando e legitimando as vozes dominantes. Dessa maneira, a escola torna-se meio de transmitir a cultura dominante, ao mesmo tempo em que revela possibilidades e limites para o desenvolvimento de conhecimentos imprescindíveis à transformação social.

Entender essas e outras questões presentes na escola faz-se necessário ao estagiário atentar-se às diversas situações, desde a chegada até o momento da saída. Conforme Lima (2002, PIMENTA, 2004, p. 118),

(...) o portão da escola representa para o estagiário uma oportunidade de reflexão. Deixar-se ficar no portão da escola é uma experiência de compreensão do que acontece lá dentro. O panorama que se descortina, visto a partir do espaço escolar, pode trazer à tona alguns aspectos que talvez nunca tenhamos observado antes: a vida da comunidade, a movimentação na frente da escola, costumes, preferências e regionalidade.

Indubitavelmente, o estágio é momento de ensinar/aprender a profissão docente e, portanto de interação, onde os estagiários e orientadores atualizam seus conhecimentos sobre a ação docente, desmitificando a idéia que tem como finalidade única denunciar as falhas e deficiências da escola. Para quem não exerce o magistério, deve se constituir antes de tudo como um estágio de boas-vindas de novos companheiros de profissão.


PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lecuna. Estágio e Docência. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DÓ... RÉ... MInha vida...

Geisa Pereira Gomes, brasileira, nordestina, baiana, jequieense, aquariana, católica e na busca eterna pelo equilíbrio! Filha de Josemir e de Almerinda, mais conhecidos como Zé e Neta, dedicados a educação e a exemplificação dos valores morais imperecíveis aos filhos. Tenho dois irmãos, Jaqueline e Élder, apesar de algumas brigas, estamos sempre prontos a ajudar o outro. Como avós paternos, Antônio e Leônidia, e maternos, Edivaldo e Marinalva, infelizmente hoje já não tenho todos por perto, mas com certeza foram e são pessoas que me ensinaram muito.

Os estudos iniciei em casa com minha mãe, posteriormente, frenquentei a Escola Mundo Encantado, onde fiz a Prontidão, com a professora Cristina. A alfabetização, fiz na Escola Passo a Passo, desse período trago na memória a relação afetiva com a professora Célia. De acordo a perspectiva Walloniana (1968), é por meio da afetividade que o sujeito acessa o mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço.

O ensino fundamental (de 1ª a 4ª série), cursei na Escola Cultural de Jequié que trabalhava de acordo o método construtivista, criado por Jean Piaget (1896- 1980), que ao invés de utilizar um método pré-estabelecido, a escola propõe temas que interessam naquele momento, acompanhando e estimulando a curiosidade natural da criança. Dessa época, lembro de ter aprontado muito, mas sempre tida como aluna exemplar da turma, que ganhava as “estrelinhas douradas”.

O ginásio, cursei no Colégio Idéia, guardo grandes lembranças e exemplos preciosos dos 'verdadeiros mestres' que marcaram minha juventude: Jackson, João Valcy, Magno, Daniela, Luciana. Também ficaram grandes amigos, entre os quais Ana Carolina, ou simplesmente Lola, uma amiga que, embora hoje esteja longe fisicamente, trago no coração, pois treze anos de amizade, o tempo e a distância não apaga. Período, também, que surgiu as grandes paixões e com elas decepções e fins de algumas amizades.

Cursei o ensino médio no Colégio Polivalente, concluindo no ano de 2005. Desses últimos anos, ficaram lembranças dos professores Martha Lyra (muito amiga e tranquila) e da exigente professora Cristiane de quem tinha pavor na época, mas que foi responsável por minha maior nota no vestibular. Com Cristiane aprendi que, muitas vezes, o professor exigente e chato é melhor para nossa vida do que o legal que empurra com a barriga.

Nessa época, tínhamos uma turma enorme e amiga, com a qual tivemos muitos momentos de diversão e prazer, frequentando festas e baladas. Ficaram na lembrança, desculpem-me os demais, Daiane, a tagarela que não deixava ninguém quieto, que tive o prazer de reencontrá-la na faculdade; Danilo, sempre brincalhão, não tinha como ficar triste ao seu lado; Genival, meu bolinha, que sempre me apoiava mesmo quando estava errada; Rodrigo, o menino mais tímido que conheço; Tamiles, minha companheira de fulga (risos), melhor amiga que uma pessoa pode ter; e tantos outros dos quais me foge a memória neste momento.

Fiz o cursinho pré-vestibular Universidade para Todos, proporcionado pela UESB, onde conheci grandes professores Rodrigo, Giorgio, Shaiala. Dos amigos desta época, acho importante citar os nomes de Cleiton, Alessandra, Diego, Thiago, Mari, Samille e Rangel. Muitas foram às vezes que filamos aulas para jogar baralho, tocar um violão, ou até mesmo jogar conversa fora.

Após a conclusão do ensino médio prestei meu primeiro vestibular para o curso Ciências Biológicas por achar que tinha afinidade, (in)felizmente não fiz uma boa pontuação. Passado um ano, prestei novamente vestibular, dessa vez para Pedagogia. A escolha dessa vez foi meio que influência de alguns amigos e também pela experiência que tive dando reforço escolar para alunos do ensino fundamental (de 1ª a 4ª série).

O início do curso de Pedagogia

Iniciei o curso de Licenciatura em Pedagogia, em setembro de 2007, cheia de expectativa, empolgação acerca do que o curso poderia me oferecer e medo pelo novo, pelos passos que viria a percorrer. Ainda possuía uma ideia simplória acerca desse universo da educação e tudo o que está ligado a ela. Entretanto, essa idéia foi logo sendo substituída, dando lugar a uma visão mais crítica, não só acerca da educação, mas do mundo, vez que não trata só da parte, mas de um todo, proporcionando a nós futuros educadores saberes que sempre nos serão úteis no contexto educacional, bem como em nossa vida como ser humano.

Por isso, considero o curso de Pedagogia como um dos cursos de licenciatura mais completo, apesar do currículo ainda não contemplar uma visão mais ampla do trabalho pedagógico, principalmente, em espaços extraescolares, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, onde trabalho como coordenadora pedagógica.

Em relação a esse aspecto do currículo, que inquietou a mim e a colega Tamires, constatamos a partir de estudos realizados no Grupo de Estudos em Políticas e Gestão Educacional, que a partir da década 90, as discussões acerca da importância da Pedagogia em espaços extraescolares passaram a ter maior ascensão no meio acadêmico, possibilitando ao pedagogo transcender o espaço escolar e conquistar, gradativamente, outros espaços. Assim, a formação do pedagogo centrou-se no exercício integrado e indissociável da docência, da gestão dos processos educativos escolares e não-escolares, da produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional (BRASIL, 2006).

Outro aspecto acerca do currículo do curso de pedagogia, analisado pelas autoras Pimenta e Lima (2004), é a distribuição das horas que determina a quantidade para o estágio, assim como para horas práticas, horas de aula e outras atividades acadêmicas. Essa é uma proposta fragmentária e, segundo as mesmas autoras, contribuirá para perpetuar a tradicional dicotomia entre teoria e prática nos cursos de formação docente.

No que diz respeito as disciplinas, lembro dos percalços e avanços em cada uma, como Sociologia e minha entrega, Filosofia e meus questionamentos, Estatística e minhas frustrações, Psicologia e meus estímulos, Metodologia da Alfabetização e minhas respostas, Linguística Aplicada a Alfabetização e a minha contemplação, Práticas Pedagógicas na Educação Infantil e a sensação de ser uma pedagoga, uma docente na Educação Infantil.

Lembro também dos professores que até então passaram pelos semestres estudados, e que contribuíram significativamente à minha formação acadêmica, ainda em processo. Desde o primeiro semestre até o atual, tive professores que foram verdadeiros mestres, outros que poderiam ser melhores, mas até com estes aprendi, pois me permitiram refletir sobre que tipo de profissional quero ser. Segundo Lima (2003), o trabalho é um princípio educativo e ao realizar a sua ação docente, o professor aprende também e vai construindo o seu conhecimento.

Sendo assim o trabalho educativo está situado no movimento de articulação entre a teoria e a prática pedagógica em que constitui a identidade docente. Dessa maneira, refletir o caminho percorrido até chegarmos ao período do Estágio no ensino fundamental é imprescindível para sabermos que tipo de profissional seremos.

(des)caminhos do meu processo formativo

O caminho até chegarmos a disciplina Práticas Pedagógicas do Ensino Fundamental, a qual nos possibilita o estágio, é longo, no entanto, enriquecedor para esse período. Das disciplinas que contribuíram com os seus conteúdos teórico-metodológicos para a nossa postura em sala no estágio da educação infantil e futuramente do ensino fundamental, posso citar Psicologia da Educação I, a qual nos proporcionou um estudo acerca da abordagem vygotskiana que defende a idéia que o desenvolvimento infantil pode ser mediado através da brincadeira de faz-de-conta, acreditando que ela é a principal atividade até os seis anos de idade. Conforme este autor,

a situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe da boneca e a boneca como criança e, dessa forma, deve obedecer às regras do comportamento maternal (VYGOTSKY, 1998, p.124).

Sendo assim, será por meio dessa atividade que as crianças mais vão desenvolver a linguagem, o pensamento, a atenção, a memória, os sentimentos morais, os traços de caráter; vai aprender a conviver em grupo, a controlar a própria conduta.

Esse aspecto pôde ser percebido numa atividade de campo, na qual observamos alunos de quatro anos da Escola Municipal Dr. Joel Coelho Sá, ficando evidente que a brincadeira contribui de forma positiva para o processo de aprendizagem dos alunos, assim como ela está inerente a sua realidade.

As disciplinas Sociologia da Educação I e II proporcionaram uma visão crítica da educação e tudo o que está ligado a ela, por meio de estudos acerca da relação existente entre educação e ideologia, a educação no contexto neoliberal, as abordagens de autores como Althusser, Durkheim, Gadoti, Giddens, Mersenas, Snyders, Pereira e Foracchi.

Para a educação, o discurso neoliberal parece propor um tecnicismo reformado, onde os problemas socioeconômicos, políticos e culturais da educação se convertem em problemas administrativos, técnicos e de reestruturação. Neste sentido, o aluno se transforma em consumidor do ensino, e o professor em servidor capacitado e competente para preparar seus alunos para o mercado de trabalho e para fazer pesquisas práticas e utilitárias em curto prazo. Diante disso, devemos nos posicionar se como profissional queremos servir a este discurso, que não toca na estrutura piramidal da sociedade, apenas amplia sua verticalidade.

A disciplina Linguística Aplicada a Alfabetização, conduzida de maneira exemplar pela educadora Sonilda Sampaio, com certeza vai ser lembrada ao longo do meu processo formativo, pois além de discussões sobre a aplicabilidade de uma metodologia adequada à alfabetização, pudemos contemplar uma prática pedagógica coerente a realidade de alunos advindos do campo, da Escola Estadual Rural Taylor Egídio – ERTE, da cidade de Jaguaquara.

Esse é um projeto que, iniciou-se em 2001 e, trata de uma pedagogia de alternância, onde atende, atualmente, seiscentos e vinte e cinco educandos, sendo que duzentos ficam na escola, que funciona como internato, enquanto que os outros quatrocentos e vinte e cinco estão em suas moradias sendo visitados pela equipe da itinerância.

As crianças e adolescentes campestres atendidos são respeitados em suas singularidades, acolhidos como sujeitos de cultura diferente, não deficiente e, sobretudo, imersos numa práxis pedagógica que faça valer, sobretudo, o discurso da concepção freiriana de educação integral.

Não só disciplinas contribuíram, as palestras, mini cursos, oficinas, mesas temáticas, momentos que participem como ouvinte, monitora, palestrante e/ou colaboradora, também tiveram sua parcela na minha formação. Dentre elas: III Feira de Educação: "Educação do Oprimido, um novo olhar, uma nova perspectiva”; II Seminário de Inclusão Social e Educacional: (Re) Conhecendo a Diferença; III Workshop Lobato: 124 anos de história e reinvenção; Pedagogia em Debate: História, Currículo e Desafios; Alfabetização e Politização: Alternativas para o desenvolvimento de uma prática pedagógica transformadora; IV Semana de Pedagogia: "A Profissionalização do Pedagogo na Contemporaneidade"; Encontro Norte e Nordeste de Estudantes de Pedagogia.

O Grupo de Estudos em Políticas e Gestão Educacional é uma experiência ímpar também ao meu processo formativo, nele além de compreender acerca dos processos de descentralização, democratização e participação civil no âmbito educacional, bem como do processo de intervenção do Estado nas políticas educacionais brasileiras e na gestão da escola pública, fomentando ações de pesquisa e extensão, pude entrelaçar um círculo de amizade com o educador Ubirajara Lima e os colegas Thiana, Ivan, Tamires, Larissa, Luciene, Cristiane, Daiane e Irane, os quais me ajudam a crescer não só profissionalmente, mas como pessoa.

Voltando a falar das disciplinas, não posso deixar de citar Práticas Pedagógicas em Educação Infantil, vez que nos proporcionou momentos de estudos e preparação de material para o levantamento de dados, observação e co-participação na instituição que estagiamos, para, posteriormente, elaboração dos planos e atividades a serem desenvolvidas no período da regência.

O estágio na Educação Infantil

O Estágio na Educação Infantil iniciou, em outubro do ano de 2010, com as observações, que foram essenciais, pois além de uma reflexão acerca da dinâmica de trabalho desenvolvido pelo Centro de Atenção Integral à Criança – CAIC/Creche Alaor Coutinho, proporcionou a elaboração de um projeto de estágio, tendo como objetivo primordial contribuir para a qualidade da Educação Infantil dessa instituição.


Ao contrário do que esperava não me assustei com a realidade da sala, fiquei empolgada para começar logo o período da regência. Ouvíamos muito que era a pior sala para se trabalhar, o que deixou-me preocupada, mas em nenhum momento desmotivada. Acredito que o carinho das crianças com a gente, desconhecidas até então, contribuiu para essa motivação.

O momento da co-participação, acredito que não aconteceu como de fato deveria, foi como uma nova observação, no entanto, intervimos em alguns momentos, como na rodinha e na hora do lanche. Durante essa etapa, também elaboramos o projeto do estágio, sob a orientação da professora Lilian. Cada dupla, no nosso caso, trio, ficou responsável por uma das partes que constitui o projeto, cuja temática sugerida pelas escolas/campo de estágio foi “Cantigas de Roda”, o qual visou a criação de momentos para as crianças interagirem com a leitura e a escrita, com a matemática, bem como com os conteúdos das ciências naturais e do conhecimento social.

Após a conclusão desse projeto, preparamos os planos de aulas, para então iniciar o período da regência. Os planos foram pensados de acordo com conteúdos do Planejamento da Escola, partindo, em sua maioria, de músicas presentes na rotina da Educação Infantil, tais como: O sapo não lava o pé, Borboletinha, O cravo brigou com a rosa, Peixe Vivo, Atirei o pau no gato, Indiozinhos, A canoa virou, Pintinho Amarelinho e Escravos de Jó.

Para atender aos assuntos referentes ao aniversário da Cidade, elaboramos um plano de aula, objetivando a visita e o reconhecimento de pontos específicos de Jequié/BA. Assim, promovemos, com o apoio da direção do CAIC, um passeio em diferentes lugares, como Museu, Biblioteca Central e Catedral de Santo Antônio, visualizando durante o percurso a Praça Ruy Barbosa, Palácio das Artes e a Prefeitura Municipal.


O passeio aludido foi apenas um dos planos executados. Trouxe uma motivação nova, pois estávamos preocupadas com o comportamento das crianças fora da Escola, no entanto, não tivemos nenhum contratempo. A admiração dos locais que nunca tiveram oportunidade de conhecer, as perguntas e o sorriso foram tomando conta das crianças e trazendo para mim uma alegria imensurável.

Vale lembrar que a execução desses planos baseiou-se, em especial, na ludicidade, a qual entra em sala de aula como uma das possibilidades de articulação entre docente, educando e conhecimento. Salientando que em um ambiente escolar lúdico, o professor renuncia o seu papel centralizador paradigmático para se tornar um participante-mediador do processo de construção de conhecimentos.

O início desse período foi marcado por grandes expectativas, anseios, medos de errar, frustrações e desafios, no entanto, no decorrer do processo, a situação foi contornada. Devemos isso, sobretudo ao apoio incondicional da professora orientadora de Estágio, a qual fez-se sempre presente, tirando nossas dúvidas e dando-nos forças para o exercício da docência.

Outro fator que possibilitou essa mudança foi o projeto de intervenção/interação elaborado previamente, onde os resultados esperados foram alcançados com êxito, mostrando a importância do planejamento para orientação do trabalho docente.

Cipriano Luckesi (2001), no trecho abaixo, presente no texto "Subsídios para a organização do trabalho docente", apresenta algumas importantes orientações para uma prática docente de qualidade:

O docente, em sua atividade intencional, deverá organizar o seu trabalho, tendo em vista executar mediações que conduzam à consecução dos objetivos estabelecidos. Se se tem como meta o trabalho pela democratização da sociedade e se se compreende que esta não pode ocorrer sem que os sujeitos possuam sua independência, importa que o educador, como profissional que tem claro que o setor da Educação é uma das mediações sociais que podem servir à luta pela democratização, deverá ter conhecimentos dos fins a serem obtidos, assim como dos princípios e meios científicos e tecnológicos disponíveis para a obtenção do que se traçou como resultado final de seu trabalho.

Vale lembrar que durante a trajetória da regência enfrentamos vários dilemas, a começar com a realidade da Escola, que apresenta-se longe do que seria ideal para favorecer a aprendizagem dos alunos, principalmente pela falta de recursos materiais, bem como a formação inadequada da professora regente, a qual relatou a sua falta de experiência com a Educação Infantil e uma formação em área antagônica a educação.

Vivenciamos também o dilema da indisciplina, pois tivemos dificuldade de manter, algumas vezes, a sala concentrada nas atividades. Acredito que tal comportamento tenha acontecido pelo fato dos alunos estarem acostumados com a rotina da sala, onde a indisciplina era constante e, assim negavam-se a aceitar as novas regras.

Os dilemas existentes na prática do educador são essenciais, pois é através deles que podemos refletir, a fim de renovar as práticas educativas. Assim, foi com os dilemas presentes no período da regência que surgiram alguns questionamentos, acerca de como enfrentá-los. Para tanto, contamos com a ajuda, em especial, de Eliane, assistente da sala, a qual nos ensinou a lidar com os dilemas aludidos, levando em consideração as peculiaridades das crianças.

Nesse sentido, o estágio na educação infantil foi uma experiência rica, que vou lembrar com muita saudade. De cada criança, dos momentos junto com minhas colegas e amigas Érica e Fernanda. Sei que foi um período difícil para Érica, esperando o seu primeiro filho, Davi, para Fernanda também, que saía do estágio direto para o seu trabalho. Mas conseguimos fazer esse trabalho com respeito, competência e acima de tudo responsabilidade, entrelaçando a teoria e a prática no pequeno espaço de tempo, dando sentido ao processo formativo.

Nessa perspectiva, concordamos com as autoras Pimenta e Lima quando afirmam que:

Assim, numa perspectiva de ritual de passagem, esperamos que essa caminhada pelas atividades de estágio se constitua em possibilidade de reafirmação de escolha por essa profissão e de crescimento, a fim de que, ao seu término, os alunos possam dizer “abram alas para a minha bandeira, porque está chegando a minha hora de ser professor (PIMENTA e LIMA, 2004, p.100).

Até o presente momento, muitas foram as contribuições teóricas e as experiências durante o curso, agora chegou a hora de saborear os sabores e desabores do estágio no Ensino Fundamental, que será proporcionado pela disciplina Práticas Pedagógicas do Ensino Fundamental, tendo como orientadora a docente Socorro Cabral. Esse período com certeza será significativo para o meu processo formativo e espero compreender os dilemas da rotina dos professores e alunos do ensino fundamental, aprender com a professora regente e juntamente com a orientadora Socorro Cabral solucionar questões que irão surgir.

Em suma, cada semestre, cada disciplina, cada palestra, cada momento, o estágio foi vivido e o que será vivenciado contribuem de maneira peculiar a desvendar minha trajetória, antes como uma folha em branco e hoje com um universo a preencher. Por tudo isso, sinto-me lisonjeada por minha escolha e pelo futuro de muito orgulho que buscarei.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Retorno das atividades acadêmicas


As férias foram ótimas.. mas o retorno das atividades acadêmicas me deixa ainda mais feliz, mais viva, mais ativa!!
E o semestre iniciou com o "pé direito" com a aula da disciplina de estágio, com a docente Socorro Cabral, a qual iniciou com a exibição do filme Forrest Gump - O Contador de Histórias que retrata as questões da memória.
Logo após uma breve discussão, solicitou a cada aluno para retratar em um retalho de pano uma cena ou contexto marcante na sua itinerância enquanto aluno/professor.
Esse "dispositivo" utilizado pela docente foi fundamental para compreendermos a importância de conhecer o contexto que estamos inseridos enquanto aluno/professor, assim como (re)conhecer nossos objetivos e limitações, pois as situações vivenciadas individual e socialmente estão interligadas.