Como diria Machado de Assis, citado por Esteban e Zaccur (2002, p. 15), “Deus te livre, caro leitor, de uma idéia fixa. É que as idéias fixas, uma vez encarapitadas no trapézio da mente passam a exigir respostas, leituras, discussões, reflexões e, portanto pesquisa...”
Essa advertência confirma que a pesquisa não é tarefa fácil. Pode se dar a partir de uma idéia fixa, ou seja, de um questionamento, de uma pergunta que direciona o processo empírico-teórico de uma investigação. Contudo, acreditava-se que pesquisa pressupõe fundamentação teórica consistente, leitura crítica da bibliografia especializada e, por conseguinte sempre esteve atrelada ao professor universitário, ao lócus da universidade.
Nessa perspectiva, a pesquisa é entendida como momento de pensar para orientar o fazer de outros. Assim, as perguntas indispensáveis ao processo de construção do conhecimento são silenciadas no interior da escola e, consequentemente, a educação segue ancorada a princípios capitalistas, apostando nos pré-requisitos trazidos pelos pesquisadores acadêmicos, isentando os professores da educação básica de serem pesquisadores.
A superação da dicotomia entre o pensar e o fazer, matrizada na divisão do trabalho e na hierarquização, tem sido um desafio, evidenciado nos impasses vivenciados por quem vive o cotidiano da escola e por quem teoriza. Deste modo, torna-se, pois, necessário a formação de professores-pesquisadores.
Para tanto, o currículo dos cursos de formação de professores deve ser perpassado pela pesquisa, oportunizando os alunos vivenciarem a prática educacional e, ao mesmo tempo, refletir sobre ela, constituindo uma relação dialógica e dialética. Ressalta-se que sem essa intenção, o currículo estrutura-se de maneira fragmentada, tendo como base as disciplinas teóricas, ligadas ao saber, seguidas posteriormente pelas metodologias, ligadas a prática, para então finalizar com o estágio, momento de treinar a ação docente, mostrando o que foi aprendido.
Os cursos de formação de professores, portanto devem romper com a concepção do currículo dicotômico, para então considerar as teorias como “lentes”, instrumentos que auxiliam na compreensão do real, tendo a prática como ponto de partida e chegada. Dessa maneira, qualifica o professor enquanto pesquisador, que nesse movimento de ação-reflexão-ação, torna-se apto a formular alternativas para transformar a sua ação docente, bem como a realidade.
ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR, Edwiges (orgs.). Professora-pesquisadora: uma práxis em construção. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2002.
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